O Open RAN (Rede de Acesso de Rádio Aberto) é um movimento que busca democratizar o acesso e desenvolver novas tecnologias dentro do conceito de redes abertas. Em 2021, a RNP se uniu ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) e a outros parceiros para lançar o programa OpenRAN@Brasil, com o objetivo de desenvolver o 5G no país.

Em entrevista originalmente publicada na Revista do WRNP, o engenheiro e diretor de estratégia do CPQD, Alberto Paradisi, explicou que o programa pretende acelerar o desenvolvimento da rede 5G, ao oferecer um ambiente de testes baseado em Open RAN e contribuir com o uso da rede aberta na educação, pesquisa, inovação e democratização do acesso à tecnologia no Brasil. O programa envolve pesquisa e desenvolvimento de uma rede Open RAN 5G incluindo o controle inteligente de redes de acesso e suas aplicações.

Em 2023, o marco principal da iniciativa é operacionalizar o testbed, plataforma para conduzir experimentos rigorosos, transparentes e replicáveis de teorias científicas, ferramentas computacionais e novas tecnologias. Apesar dos desafios, a ideia é não parar e já há planos para a implementação do 6G no futuro.

Como o sr. enxerga o potencial do OpenRAN@Brasil?

Alberto Paradisi: O programa tem como objetivo acelerar a adoção da tecnologia aberta, e o CPQD participa porque acreditamos muito no potencial das redes abertas. O Open RAN é um exemplo de rede programável, interoperável, no sentido de que é uma rede aberta, que usa dentro dos limites prateleiras de alto desempenho, equipamentos de prateleira. Isso proporciona grandes vantagens para as operadoras e ecossistemas de fornecedores e também para as empresas que vão adquirir a tecnologia. A expectativa é grande, e nosso esforço está indo nessa direção de promover o uso e a adoção do desenvolvimento.

O programa OpenRAN@Brasil pretende acelerar o desenvolvimento de tecnologias de telecomunicação no país, principalmente o 5G. Como o Open RAN pode contribuir para a democratização dessa tecnologia?

AP: O Open RAN é uma tecnologia que está em conformidade com o padrão 5G, que é o padrão do consórcio 3GPP junto com a União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência das Nações Unidas. Então, o Open RAN é um 5G que proporciona certas vantagens nas propostas de valor. Uma delas é a redução do investimento das empresas operadoras, que vão comprar tecnologia, com menor investimento de capital para a aquisição do equipamento, e na operação, o custo operacional do dia a dia. Com esse menor investimento, imaginamos que haja mais recursos e condições para as operadoras expandirem a rede e, com isso, mais pessoas terem acesso. Essa é uma aposta, claro, e com a chegada do 5G abrem-se novas possibilidades no conceito de redes privadas, que vão atender à transformação digital na indústria, saúde, nas cidades, em toda a infraestrutura destinada a aplicações específicas que chamamos de business to business. O Open RAN pode ser protagonista e, nesse sentido, ajudar a disseminação da conectividade de alto desempenho no país para pessoas, empresas e objetos.

Quais são os próximos passos do OpenRAN@Brasil?

AP: O marco importante deste ano é operacionalizar o testbed, que vai ter dois pontos de presença nesta fase do programa, um em Campinas (SP) e outro no Rio de Janeiro (RJ). A partir daí, começa a experimentação, trazendo grupos universitários para validar o algoritmo, por exemplo. Também faz parte dos objetivos do programa trazer startups para validar aplicações que usam a tecnologia Open RAN, esse é o principal marco do ano.

Quais são os principais desafios científicos e tecnológicos para desenvolver o 5G?

AP: Tem desafios tecnológicos, principalmente relacionados a obter um desempenho comparado com a tecnologia fechada, monolítica, mais tradicional que o 5G, especialmente nos casos de uso de múltiplas antenas. Há uma tecnologia que se chama MIMO (Massive Multiple Input Multiple Output) que usa dezenas de antenas para melhorar o desempenho da rede: nesta aplicação específica há um desafio para o Open RAN, que ainda precisa se desenvolver. Tem desafios de interoperabilidade, por ser uma tecnologia aberta, que quebra paradigmas de interoperabilidade entre um fornecedor A e um fornecedor B. Um fornecendo rádio, por exemplo, e outro oferecendo os componentes de database, mas isso é normal e é a jornada do ecossistema se desenvolver e as coisas poderem funcionar de forma mais suave.

Como o sr. avalia a parceria do CPQD com a RNP para desenvolver projetos tecnológicos?

AP: O programa tem três fases. Na primeira, o CPQD colabora com a RNP e considero essa parceria muito valiosa, porque a RNP tem característica de operadora, uma operadora que atende a academia, mas tem cunho mais ligado à pesquisa e à experimentação. Então, é um privilégio estarmos próximos no desenvolvimento de projetos mais avançados, como é o caso do Open RAN. Temos uma complementariedade muito forte e juntando os esforços, CPQD e RNP, temos capacidade de entregar mais para o país. Vejo isso de forma muito positiva.

Pode exemplificar áreas que podem se beneficiar de tecnologias desenvolvidas a partir do Open RAN?

AP: O uso da tecnologia digital na indústria, na saúde, na educação e em outras áreas vai gerar eficiência de um lado e poder produzir mais ou entregar um serviço de saúde melhor para o cidadão gastando menos. Com isso, por que não expandir, no caso da saúde, de serviços públicos, da educação? Expandindo os serviços são mais pessoas tendo acesso. O uso da tecnologia digital tem essa grande promessa, paradigma, que é de poder oferecer melhores serviços para mais pessoas e com menos gastos. Isso vale para todos e tem um impacto econômico e social direto, evidentemente. E vale também para todos os cenários de aplicação que possamos imaginar.

Qual a importância de se investir em projetos como o OpenRAN@Brasil, que contribuem para as telecomunicações do país?

AP: Em última instância, o propósito é apoiar a inovação na indústria. Lógico que essa indústria de base tecnológica vai conviver com grandes empresas globais, mas uma das propostas de valor do Open RAN é componentizar a rede 5G e futuramente a rede 6G e assim criar oportunidades para empresas menores, de nichos que não precisam de investimentos bilionários para se posicionarem como fornecedores no mercado. Nossa expectativa é, através desse modelo aberto, do qual o OpenRAN@Brasil é um exemplo, criar oportunidade para indústria brasileira, empregos qualificados e enfim, prosperar e crescer, esse é o propósito.

Programas como este podem beneficiar e impactar a pesquisa acadêmica no Brasil?

AP: Sim, um dos grandes desafios da pesquisa acadêmica e da atividade de inovação na indústria é a conexão, no sentido de conectar as universidades com conhecimento para oferecer às indústrias que têm demandas para produzir inovações. Um dos objetivos do OpenRAN@Brasil é aproximar a academia da demanda da indústria, é um benefício importante para o ecossistema de inovação nacional.

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